terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mistérios

Quem dera encontrar
Assim desperta
Minha alma, em sentido ou forma concreta.
Estou tão distante de mim...
Sou tão errante, tão confusa
Perco-me em meus próprios abismos e medos
Tentando pular de muro em muro
Na busca de a mim mesma explicar-me.

Como continuo a tentar?

Esqueço por vez que cada mistério interno
É tão ou mais nebuloso
Que o próprio mistério do mundo.


Existe um momento em que você simplesmente cansa daquelas roupas que você vestia, com aquelas  mesmas cores que você usou por tanto tempo... E então você precisa de renovação! Porque você constata, talvez com certo aperto, que você está mudando estranhamente, e que não adianta lutar contra isso, e querer acreditar que para sempre você iria gostar das mesmas músicas, dos mesmos livros, e que teria os mesmos sonhos. Porque é a cada minuto que deixamos algo ficar mais distante, e é a cada minuto que algo a mais nos acrescenta. Então nestes momentos, que acontecem o tempo todo em nossas vidas, ou nos embalamos e caímos nessa onda de mudança constante, vivendo o que elas são, ou choraremos as pitangas, como se mudar fosse tragédia, e sofreremos sem sentido justamente o que nos dá sentido.
Grata pela matéria do tempo, racionalmente ingrata, hoje aspiro conformar-me que jamais serei a mesma, que jamais poderei voltar os ponteiros, e a gostar do mesmo enfeite de cabelo, ou do mesmo estilo decorativo, ou do mesmo perfume! Afinal, sendo humana, mudança é meu codi-nome!

Já diria Camões...


"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía."