quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ideal



O momento existe
E só ele.
O sonhar persiste.
E é o que nos embala.

E parece
Que a vida consiste
Nessa inexata busca pelo ideal
De tornar cada breve momento um sonho.

Inexplicável

A menina acordou assustada. Sentada na cama lembrou-se dos acontecimentos da semana anterior, que vieram acompanhados daquele sentimento inexplicável dentro de si. Pensou que talvez fosse melhor não ter acordado, mas o pesadelo era real.
            Em sua cabeça, voltara a rodar o filme, do mais impactante fato acontecido em sua vida. As cenas daquele ritual de despedida, tão comum entre os povos ocidentais... Triste, melancólico, capaz de deixar os entes queridos piores do que estão. Lembrou do desespero da mãe, das coroas de flores, do cheiro de tristeza, do gosto das lágrimas, da missa rezada, do corpo deitado. Também da irmã mais nova que, por não entender, considerou tudo uma festa familiar... Por fim do caixão e da profana cova.    Levaria consigo todos essas lembranças. Porém o momento mais marcante do fato, acontecera horas antes da cerimônia lembrada. Algo que ela nunca havia sentido lhe viera à tona. Um momento de choque: a notícia da morte.
              Memórias recentes e remotas, rodavam em sua mente. As lembranças da  vida toda com a pessoa querida, passando tão rápido quanto um raio, porém tão inundado de recordações quanto um clássico literário. Toda a infância, as brincadeiras com ele, os passeios, as chineladas, as risadas... As primeiras discussões, os castigos, os mandamentos... As levadas em festas, o debutar com a valsa inesquecível, dançada com ele. Tudo rodando, passando pelo fio da memória. Carinhos, choros, dengos...apenas passado.
            Tudo acontecera tão rápido, que parecia que seu cérebro ainda não havia processado tamanhas informações. Como se a “ficha não tivesse caído”.
            Sentiu-se mal. Levantou-se da cama e foi até a pia, de pé no chão. Pegou um copo e ligou a torneira. Abriu a boca e deixou a água lavar a angústia interna, levá-la embora. Sentada rente à mesa, balançou as pernas. Refletiu, agora mais calma sobre a situação. Para ela não havia assassino. A culpa era da senhora violência que atormentava um país inteiro. Achou que graves erros estavam escondidos por traz de toda a história de uma nação... Mas não sabia quais, apenas desconfiava. Estava na dúvida se era o homem quem gerava a violência ou se a violência era quem transformava o homem. Tanto tormento tinha que ter uma explicação. O que realmente não conseguia entender nisso tudo, era o inexplicável por conta do irracional...

(Hoje me deu essa vontade de botar este blog para funcionar, levar ele um pouco mais a sério, e publicar com mais dedicação meus devaneios, pensamentos, criações. Esse texto escrevi em 2006, para um concurso literário muito bacana, que ocorre anualmente na Fundação Liberato, o Liberarte. Foi minha primeira publição em uma coletânea, levando ainda a premiação de Terceiro Lugar na catergoria Conto. Portanto, para colocar minha vontade de publicar em dia, aproveito este texto que retoma uma época passada, singular. Republico ele por aqui, nessa vida e época internetês.)

Momento

Fez algum tempo já, que me perdi em imensidão, de mim mesma, antes mesmo de conhecer-me. Vagarei pois sem fim, no mar infinito e oculto, de minhas dúvidas e pensamentos, e vagarei pois rumo ao nada, pois a nada cabe a existência. Se um dia tive certezas e discursos jogados aos ventos, me cabe entender pois, que sou agora a dúvida, a confusão, o equilíbrio sem controle. Passei, quem sabe a ter outros olhos, outros sentidos, percepções diversas. Outros retratos figuram minha memória. Certos ventos antigos já me passam despercebidos, pois minha pele é outra e até mesmo a esperança é outra.